sexta-feira, 26 de março de 2010

Organizando meus livros e minhas ideias


Nunca consegui entender a literatura como insistiram em me ensinar na escola. Não consigo conceber a ideia maluca dos ciclos e que eles se sucedem organizadamente, como se em fila indiana, como trens, sincronizados para evitar colisões. Pior ainda, tudo que fosse diferente ser chamado de vanguarda, ou relegado ao esquecimento (como Lima Barreto e João do Rio, que depois foram chamados de pré modernos - que diabo é pré? Pré só quer dizer que veio antes e que ninguém conseguiu seriá-los, ou classificá-los).
Existe sempre alguém tentando classificar as coisas, fazer com que elas se encaixem, dar nome aos bois. Só acho que essas pessoas não sabem bem do que se tratam as histórias, mas pelos autores serem contemporâneos, são colocados todos no mesmo balaio de gatos. Como exemplo o romantismo: Joaquim Manoel de Macedo e Bernardo de Guimarães são românticos (e chatos pra #%&@#%%!), mas José de Alencar é completamente diferente. Mas era um político importante, falava da vida da boa sociedade no Império, da moda, dos usos e costumes - seus livros poderiam ser considerados verdadeiros manuais de etiqueta. Outro detalhe que não pode passar em branco: foi um dos idealizadores e incentivadores do projeto de fundação de uma identidade nacional, valorizando a presença indígena na formação do povo. Por que ele é romântico? Por que não fundaram uma corrente só dele? Tipo assim, "identitarismo", "moralismo"?
Outro caso: terceiro ciclo modernista - ciclo regionalista (me corrijam se eu estiver louca). Regionalista por que? Alguém já tentou explicar o que é regionalismo em literatura? Por acaso, o sertanejo deixa de ser o que é dependendo de sua localização geográfica? Só é sertanejo se for nordestino? Alguém explica que, fora a saga "O Tempo e o Vento", todos os romances de Érico Veríssimo são urbanos (e mesmo a última parte da saga, "O Arquipélago" tem ambientação urbana)? Que o sertão era, e ainda é mais vasto que as áreas densamente povoadas? Que o cangaço, o banditismo e o jaguncismo eram uma realidade nas décadas de 20 e 30 do século XX? Então, que regionalismo é esse? Só porque é diferente? Por que não se encaixam em nada tem de ficar todos juntos? É como aqueles livros de edições especiais que a gente compra e por serem maiores, tem de ficar na prateleira mais alta, todos misturados, sejam romances, atlas, enciclopédias.
A literatura é produto do seu tempo. Cada autor representa seu mundo (ou outro mundo que deseja criar) da maneira que o percebe, não quer dizer que todos pensam da mesma forma por serem contemporâneos, ou conterrâneos. Não se pode afirmar que só o modernismo é genuinamente nacional, uma vez que a população letrada do século XIX era europeizada. E Machado de Assis? Um dos maiores romancistas brasileiros, não é genuinamente nacional?
A realidade sertaneja virou moda por causa do cangaço, da fome, da seca e do medo. Não foi puramente por uma evolução estética. O modernismo também mostrou-se interessado em forjar uma identidade nacional, mas acabou acolhendo as múltiplas identidade que a própria nação oferecia.
Por ser maior, por ser antiga e por ser eterna, a identidade sertaneja permanece, apesar do modernismo, das vanguardas e do pós modernismo. Obras sobre literárias sobre o sertão continuam sendo publicada e premiada ao longo dos anos. Por que nunca pensou em classificá-las numa tradição própria? Delirei?

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Além de você ser linda, outras razões fazem com que estejamos juntos. Seu Post parece a aula que dei ontem. Beijos

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