Pela janela do meu quarto vejo as folhas da parreira mudarem de cor e caírem, assim como meus cabelos. É o outono de minha vida.
As pessoas dizem: "Como você está magra! Está linda!" - não me sinto assim. Faltam doze quilos e aquela silhueta esguia no espelho só me lembra as velhas esquálidas de minha família, apesar de ter o mesmo peso que tinha aos 17. Eles simplesmente se foram, me abandonaram, há um ano, levados por uma misteriosa sindrome reumática.
Meu guarda-roupa, já não me pertence. Todas aquelas roupas coloridas, leves, ficarão guardadas até que meu próprio sol volte a brilhar, se voltar. Parecem roupas de alguém bem mais jovem, em plena primavera.
Minha família frutifica, sobrinhos nascem e são gerados por jovens árvores, que ainda estão floridas: Eduardo e vindo Ana Luiza ou talvez Pedro Lucas.
Me inquieta o medo do meu próprio inverno, o medo da dor e da degeneração precoce. Meus joelhos doem e os pedidos de exame continuam dentro da minha bolsa. Um sopro do vento gelado do outono prenunciando o inverno e o sopro do meu coração que eu não quero que os médicos ouçam.
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