Há cinco anos comecei a sentir fortes dores nas articulações, acompanhadas de vermelhidão, febre, mal estar. Recebi o diagnóstico de forma muito gentil do cardiologista com um encaminhamento ao reumatologista e umas vinte páginas de resultados de exames (lembro-me que ao colher sangue para que fossem realizados, fiquei assustada ao serem retirados 12 tubos, que seriam testados para inúmeras doenças, incluindo mais de 30 tipos de hepatite, que eu nem imaginava que existiam).
O médico foi tão amoroso e cordial, que se eu fosse só um pouco ingênua não teria me preocupado em procurar um especialista, mas algumas de suas palavras martelavam meu cérebro: crônica, incurável, degenerativa.
Menos de 200 metros separavam a clínica da casa da minha mãe, onde eu havia deixado o carro. Foram, provavelmente os 200 metros mais longos de minha vida. Eu precisava ver minha mãe. Precisava saber como eu sobreviveria a dor da artrite reumatóide, como ela conseguira sobreviver tantos anos, com poucas reclamações e com um cotidiano completamente ativo. Não consegui apreender quase nada do que ela me disse naquela noite. Só conseguia pensar em crônica, degenerativa, incurável e chorar.
Foi naquela noite que eu descobri que estava fenecendo. Que a vida é fugaz e como a desperdiçamos com questões menores. Mesmo ciente disso, ainda não consegui evitar o desperdício do meu tempo, não consigo otimizá-lo como gostaria e não consigo ignorar a dor como faz minha mãe.
Gostaria de ser mais forte, mais valente, mas sou muito suscetível a dor. Fico deprimida, não quero dividí-la com mais ninguém enquanto vejo e sinto a compaixão nos olhos e nas vozes das pessoas que convivem comigo. Não tenho como esconder, a todo o tempo sou denunciada pelo coxear de minhas pernas, o inchaço de meus joelhos, meu mau humor, a perda de peso acelerada e meu semblante sempre abatido.