quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Atire a primeira pedra

Desde o anúncio da pena de morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani venho acompanhando o caso com interesse. Ainda não consigo compreender como em plena era digital alguém pode ser apedrejado. 
Não sou completamente contra a pena capital, mas se ela é aplicada, o réu/ré só deve ser executado/a quando não existir quaisquer dúvidas sobre a culpabilidade e unicamente em crimes brutais. Mas, não sou eu quem faz as leis.
Num país como o Irã, uma teocracia, a pena capital nem deveria existir! Uma vez que Alá não pode comparecer ao tribunal, quem julga é o fanatismo dos aiatolás, impondo uma moral arcaica e cruel.
Para quem não entende lhufas do Irã, recomendo a leitura de "Persépolis" de Marjane Satrapi, um romance gráfico (o termo está na moda, mas também pode ser lido como história em quadrinhos ou arte sequencial, vai da preferência de cada um) em que a autora iraniana narra as transformações de um país extremamente ocidentalizado em uma ditadura religiosa. Também há uma animação homônima, para quem preferir.
Não se enganem: o apedrejamento não é cultural, é mera crueldade. A Revolução Islâmica iraniana se deu em 1979, portanto, citando Eric Hobsbawn, há uma invenção da tradição. E só pra constar, iranianos não são árabes, são farsi, ou como nossa lusofonia impõe, são persas. 
Tudo bem que a pena por apedrejamento foi suspensa por enquanto, mas a pobre mulher já está presa há quatro anos! Por adultério e suposto envolvimento no assassinato do marido, que se for comprovado vai levar a mulher pra forca! As penas capitais do Irã não passam de um grande show de horrores! Não tem nada a ver em poupar a sociedade de um criminoso irrecuperável, mas em demonstrar a sociedade os abusos a que está sujeita caso discorde do regime dos aiatolás. É pura violência psicológica!
Tenho certeza de que sou uma pessoa tolerante. Detesto e coíbo qualquer manifestação preconceituosa sob meu teto, seja racial, étnica, cultural, sexual ou individual. Acho que relativizar é a palavra de ordem, mas nessas situações, tenho que concordar com Juliano e suas frases absurdas sobre relativismo exagerado. Neste caso, não há como! Não tem nada de cultural, é barbárie, crueldade, abuso de poder...
E fala sério! Quem é assassinado sendo eletrocutado numa banheira por várias pessoas?

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