quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Badulaques


Entre tantas outras definições dicionarizadas, badulaque significa coisa miúda, bagatela. Pra mim, uma parte de meu apelido de infância: "Paulina Badulaque".
Na minha cidade havia um senhor de nome Paulino, que enlouqueceu e andava na rua juntando todo o tipo de miudezas que conseguia encontrar (como tinha doentes mentais na rua naquele tempo!). Eu, como sempre fui juntadeira de tralha, herdei o nome. Desde pequena guardo caixas, garrafas, copos de iogurte, caixas de fósforo, de remédio, de ovo e tudo o mais que eu pudesse aproveitar em brincadeiras e trabalhos escolares. Claro que de tempos em tempos minha mãe jogava tudo fora, aos berros, me chamando de Paulina Badulaque (só pra constar: meus irmãos também foram apelidados com nomes de doidinhos, minha irmã era Solange, uma doidinha que passava o dia todo enrolada num cobertor e meu irmão era o Doido Cabeludo, um doido furioso que corria atrás de todo mundo pra bater).
Mais tarde, no Curso Normal e quando me tornei professora, esse hábito me ajudou muito, pois eu tinha e tenho até hoje, matéria prima para material didático sempre a mão. Isso aborrece um bocado meu marido, que diz que vou acabar enchendo a casa de ratos e baratas (agora ele anda até um pouco mais desencanado com isso, mas de vez em quando, ele ainda quer que Dete, minha funcionária e "fiel escudeira" dê faxina no meu quartinho de despejo. Obviamente a faxina não acontece, pois ela é "minha" fiel escudeira).
Tomei consciência de que materiais podiam se transformar em outras coisas e ter outros usos muito antes dessa onda de consumo consciente e reciclagem. Mas, como cá onde moro não tem coleta seletiva, não consigo justificar ao meu marido que é necessário separar o lixo, pois do que adianta separar se vai tudo se juntar no caminhão de novo? Como passei quase o ano todo afastada do trabalho não pude "levar meu lixo pra passear". Isso mesmo, levo meu lixo reciclável pra Planaltina e vendo nas cooperativas de catadores para reverter em fundos para o projeto de conscientização que minha amigas Daiane e Cida Rosa trabalham com as crianças.
Agora, descobri que estou completamente na moda e que minha mania de transformar tudo tem um nome: upcycling, que junto com a décupage tem me mantido feliz e ocupada. E agora inauguro um novo espaço neste blog, dedicado a minha mania de querer transformar e aproveitar tudo e há de se chamar Paulina Badulaque, como eu e o pobre seu Paulino, que mesmo doido, sabia que as coisas podiam ser reaproveitadas.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Obrigada por tudo

Sempre digo que a mim mesma que não vou mais escrever no blog porque ninguém lê minhas bobagens mesmo, que vou fazer um post desaforado só pra saber quem lê essa droga desse blog e a Fernandinha sempre diz "Ô, amiga, eu leio seu blog sim, tá!" e eu respondo que meus amigos não contam. Mas a verdade é que vocês contam muito. E não só contam pro blog, contam pra mim. E se não fosse por vocês, eu teria desistido de muitas coisas em minha vida além do blog.
Agradeço a vocês por tudo, principalmente pela energia que vocês devem gastar tentando me entender e manter nossa amizade, porque eu sei que sou difícil, chata, desequilibrada, briguenta e também que não deixo ninguém falar.
Ah, quero agradecer especialmente a alguém que segue esse blog, mas acho que não conheço: Emiel Freitas. Obrigada por ler minhas bobagens!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Meu cartão postal favorito

Não é segredo pra ninguém que qualquer cartão postal que tenha qualquer pedacinho do Rio de Janeiro nele é o meu favorito.
É engraçado, porque passei toda a minha vida com um pavor imenso do Rio, dos perigos físicos e mentais que a cidade representava pra mim, da violência, da miséria... Juliano só conseguiu me arrastar para o Rio depois de cinco anos de casamento, no ano anterior a minha primeira visita até inventei uma viagem mirabolante no melhor estilo trip-hippie (sensacional e de baixo orçamento - em Aracaju até arranjamos uma pousada na beira da praia a quarenta reais a diária p/ casal com um café da manhã fartíssimo!) Formosa-Lençóis-Aracaju-Salvador-Recôncavo-Formosa (se alguém quiser repetir meu itinerário, pule o Recôncavo. É desnecessário. Nem sequer conseguimos hotel).
Enfim, já não existia nenhuma desculpa (na verdade existia uma: eu e o Guia 4 Rodas planejamos uma super viagem Formosa-Pedro Juan Caballero com paradas programadas na Chapada dos Guimarães e Bonito, mas não colou). Fui quase que arrastada.
Mas, com toda sinceridade, o Rio, a pluralidade e a liberdade que o Rio oferece, pra mim, é a melhor coisa do mundo! E o meu Rio de Janeiro não tem praia. Tem tanta coisa pra fazer que eu não quero nem chegar perto da praia. Além do mais, pra quem é acostumado com as praias do Nordeste, como eu, acha a praia no Rio um saco! Primeiro que você tem que carregar um bando de coisas: cadeira, guardassol, matula (é, tem que levar matula, porque lá não tem barraca de comida, só bebida e uns sanduíches, que quando não são horríveis são naturebas demais), depois, porque não tem nada pra fazer além de esturricar no sol.
Então, meu Rio é o centro, os passeios na zona sul e o futebol. Posso descer do metrô em qualquer estação do centro, Uruguiana, Carioca, Central, eu sempre saberei onde estou. Outro dia, Eleonora Zicari riu de mim porque indiquei a ela um sebo na Rua do Rosário e um botequim chamado Armazém Casual, que vindo da Praça XV, onde ela está trabalhando, é só passar pelo portal da Igreja de Nossa Senhora dos Mercadores e seguir em frente. Ela disse que ela, carioca da gema se perde no centro do Rio, como eu sabia daquilo? Na verdade, tive ótimos guias: Juliano e Ricardo, que conhecem os caminhos que passam longe das roubadas.
A semana passada, quando vi pela tv o pandemônio em que o Rio se convertera, eu orei. E quem me conhece, sabe que eu só faço minhas orações para meus deuses, santos e guias em casos extremos (é porque se é pra crer que fique registrado: eu tenho fé sim, na verdade tenho fés, porque acredito em "quase" tudo e em "quase" todo mundo, não sou atéia, sou sincrética. Na verdade, sincrética demais). Mas fui atendida. E o que poderia ser um desastre, uma chacina, foi uma ocupação.
Passei pelo menos quatro dias acompanhando por um canal de notícias, sem cessar. Aqui em casa, parecia final de Copa do Mundo, cada avanço das forças de ocupação eram comemorados como se fosse gol do Brasil. E foi. Só me pergunto porque isso não foi feito antes?
Eu não tenho a consciência pesada de financiar o tráfico, mas algo deve ser feito. As autoridades brasileiras podem optar por dois caminhos claros: liberar ou reprimir severamente. Se a escolha for a segunda alternativa, certamente, além de não acabar com o tráfico, criará um estado de vigilância civil incômodo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Adeus a casa de bonecas

Quem nunca teve uma casa de bonecas? Ou quem nunca viu uma? Existe coisa mais fofa e encantadora para uma menina do que uma casa de bonecas?
Me lembro de brincar em minha casa de bonecas quando já mal cabia dentro dela. E quando realmente não cabia, montava a casa com meus brinquedos em tendas de lençol ou debaixo de árvores. Sempre foi uma de minhas brincadeiras favoritas.
Nunca deixei de brincar. Minha casa continuou sendo minha casa de bonecas. Sempre criando novos espaços e alternativas de decoração útil ou simplesmente divertidas e fofas. Juliano também gosta muito, o que me dá estímulo a continuar criando.
Mas recebi uma notícia nada legal há duas semanas: vou precisar me mudar. Depois de cinco anos, será preciso abandonar minha casa de bonecas e recomeçar. Fiquei tão abalada, que me perdi no tempo, sem conseguir fazer nada. Não conseguia postar, costurar, pintar, ler ou produzir intelectualmente.
Aos poucos, Juliano me fez compreender que seria bom, que poderíamos recomeçar e que transformar outro espaço seria um divertido desafio.
Então, amigos formosenses, se alguém tiver notícias de uma casa para alugar, com quintal, onde meus três cães possam ser felizes, uma suíte, onde meu marido possa tomar suas cinco duchas diárias sem incomodar ninguém, e espaço para o ateliê e o escritório, me avisem.
"Começar de novo..."