É engraçado, porque passei toda a minha vida com um pavor imenso do Rio, dos perigos físicos e mentais que a cidade representava pra mim, da violência, da miséria... Juliano só conseguiu me arrastar para o Rio depois de cinco anos de casamento, no ano anterior a minha primeira visita até inventei uma viagem mirabolante no melhor estilo trip-hippie (sensacional e de baixo orçamento - em Aracaju até arranjamos uma pousada na beira da praia a quarenta reais a diária p/ casal com um café da manhã fartíssimo!) Formosa-Lençóis-Aracaju-Salvador-Recôncavo-Formosa (se alguém quiser repetir meu itinerário, pule o Recôncavo. É desnecessário. Nem sequer conseguimos hotel).
Enfim, já não existia nenhuma desculpa (na verdade existia uma: eu e o Guia 4 Rodas planejamos uma super viagem Formosa-Pedro Juan Caballero com paradas programadas na Chapada dos Guimarães e Bonito, mas não colou). Fui quase que arrastada.
Mas, com toda sinceridade, o Rio, a pluralidade e a liberdade que o Rio oferece, pra mim, é a melhor coisa do mundo! E o meu Rio de Janeiro não tem praia. Tem tanta coisa pra fazer que eu não quero nem chegar perto da praia. Além do mais, pra quem é acostumado com as praias do Nordeste, como eu, acha a praia no Rio um saco! Primeiro que você tem que carregar um bando de coisas: cadeira, guardassol, matula (é, tem que levar matula, porque lá não tem barraca de comida, só bebida e uns sanduíches, que quando não são horríveis são naturebas demais), depois, porque não tem nada pra fazer além de esturricar no sol.
Então, meu Rio é o centro, os passeios na zona sul e o futebol. Posso descer do metrô em qualquer estação do centro, Uruguiana, Carioca, Central, eu sempre saberei onde estou. Outro dia, Eleonora Zicari riu de mim porque indiquei a ela um sebo na Rua do Rosário e um botequim chamado Armazém Casual, que vindo da Praça XV, onde ela está trabalhando, é só passar pelo portal da Igreja de Nossa Senhora dos Mercadores e seguir em frente. Ela disse que ela, carioca da gema se perde no centro do Rio, como eu sabia daquilo? Na verdade, tive ótimos guias: Juliano e Ricardo, que conhecem os caminhos que passam longe das roubadas.
A semana passada, quando vi pela tv o pandemônio em que o Rio se convertera, eu orei. E quem me conhece, sabe que eu só faço minhas orações para meus deuses, santos e guias em casos extremos (é porque se é pra crer que fique registrado: eu tenho fé sim, na verdade tenho fés, porque acredito em "quase" tudo e em "quase" todo mundo, não sou atéia, sou sincrética. Na verdade, sincrética demais). Mas fui atendida. E o que poderia ser um desastre, uma chacina, foi uma ocupação.

Eu não tenho a consciência pesada de financiar o tráfico, mas algo deve ser feito. As autoridades brasileiras podem optar por dois caminhos claros: liberar ou reprimir severamente. Se a escolha for a segunda alternativa, certamente, além de não acabar com o tráfico, criará um estado de vigilância civil incômodo.
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