quinta-feira, 29 de abril de 2010

Fenecer


Há cinco anos comecei a sentir fortes dores nas articulações, acompanhadas de vermelhidão, febre, mal estar. Recebi o diagnóstico de forma muito gentil do cardiologista com um encaminhamento ao reumatologista e umas vinte páginas de resultados de exames (lembro-me que ao colher sangue para que fossem realizados, fiquei assustada ao serem retirados 12 tubos, que seriam testados para inúmeras doenças, incluindo mais de 30 tipos de hepatite, que eu nem imaginava que existiam).
O médico foi tão amoroso e cordial, que se eu fosse só um pouco ingênua não teria me preocupado em procurar um especialista, mas algumas de suas palavras martelavam meu cérebro: crônica, incurável, degenerativa.
Menos de 200 metros separavam a clínica da casa da minha mãe, onde eu havia deixado o carro. Foram, provavelmente os 200 metros mais longos de minha vida. Eu precisava ver minha mãe. Precisava saber como eu sobreviveria a dor da artrite reumatóide, como ela conseguira sobreviver tantos anos, com poucas reclamações e com um cotidiano completamente ativo. Não consegui apreender quase nada do que ela me disse naquela noite. Só conseguia pensar em crônica, degenerativa, incurável e chorar.
Foi naquela noite que eu descobri que estava fenecendo. Que a vida é fugaz e como a desperdiçamos com questões menores. Mesmo ciente disso, ainda não consegui evitar o desperdício do meu tempo, não consigo otimizá-lo como gostaria e não consigo ignorar a dor como faz minha mãe.
Gostaria de ser mais forte, mais valente, mas sou muito suscetível a dor. Fico deprimida, não quero dividí-la com mais ninguém enquanto vejo e sinto a compaixão nos olhos e nas vozes das pessoas que convivem comigo. Não tenho como esconder, a todo o tempo sou denunciada pelo coxear de minhas pernas, o inchaço de meus joelhos, meu mau humor, a perda de peso acelerada e meu semblante sempre abatido.

domingo, 25 de abril de 2010

Vergonha, time sem vergonha!


Concordo com meus irmãos flamenguistas quanto a chamar o time de sem vergonha. Porém, discordo absolutamente quanto a ofender o Andrade.
No jogo contra o Botafogo, me senti completamente constrangida ao ouvir o tom das ofensas. A galera enlouqueceu? Esqueceu quem é o Andrade? Como eles empunham a bandeira gigante com o rosto dele estampado e ao mesmo tempo o desacatam?
O Andrade é um herói do Flamengo. Corrigindo Héroi, com H maiúsculo! Como jogador pelo Flamengo o Andrade conquistou 3 Taças Rio, 6 Taças Guanabara, 4 Campeonatos Cariocas, 4 Campeonatos Brasileiros, 1 Libertadores da América e 1 Campeonato Mundial. São 19 títulos! Alguém naquela insana torcida de fedelhos tem consciência disso? Ah, e tem o nosso último título, que ele conquistou como treinador! São vinte, vinte títulos!
Eu estou furiosa! Com sangue nos olhos!
Concordo com a presidente Patrícia Amorim quanto a reformulação do Departamento de Futebol do Flamengo. Mas ela não tinha o direito de submeter o Andrade a um linchamento público como foi feito! Bom pra ela se pode conviver com os meus ídolos e até decidir o destino deles. Mas não é justo que ela exponha um monstro sagrado do futebol como é o Andrade a uma batucada ridícula, que até agora não ficou bem explicada se era pró ou contra a saída do Andrade. Isso agora pouco importa. Só espero que ela tenha colhões o suficiente, para ser coerente e retaliar os responsáveis por tal bandalheira.
Quem aqueles pés de chumbo pensam que são? Quantos deles tem pelo menos a metade dos títulos do Andrade? Será que algum deles pensa que o nome deles se perpetuará na história do Flamengo como o do Andrade se perpetuou, se continuarem jogando aquele futebolzinho mixuruca e esperando que todas as suas asneiras recaiam nas costas dos treinadores?
Sinto muito pelo Flamengo e pelo futebol do Rio. Mas sou muito mais o Andrade. Quem o viu jogar, não seria capaz de tamanho desrespeito.
Espero que isso jamais se repita. É muito triste ver um símbolo do seu clube, que não é qualquer clube de futebol, tão amado e tão importante quanto o manto sagrado, ser pisoteado e enxovalhado como está sendo o Andrade. Em meu próprio nome e de dos os flamenguistas que o viram jogar, eu peço perdão ao Andrade.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Quem me dera...


Quem me dera ser nuvem, pairando tranquila sobre os mortais, sem a preocupação de ir a algum lugar, estar em lugar algum, de ser observada, de passar desapercebida...
Quem me dera ser a criança que repara o movimento da nuvem, sonhando em crescer, sem pressa, vendo formas de animais na dita nuvem...
Quem me dera ser o cão que observa seu pequeno dono, lambendo-lhe a face de quando em vez, sem preocupar-se se amanhã poderão gozar esse momento como hoje, sem saber o que o menino vê, sem preocupar-se em levantar os olhos para o céu...
Quem me dera ser a grama que cresce sob o cão e seu dono, sem ser notada, mas que continua seguindo seu ciclo e não se preocupa se com ela se deitam ou se lhe pisam...
Quem me dera ser a terra na qual foi plantada a grama, que está em toda parte, que a tudo gera e a tudo consome, sem preocupar-se quem lhe atribuirá culpa de vida ou de morte, de berço ou ataúde...

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os girassóis da Rússia


Esta semana, enquanto produzia "um certo texto", para uma "certa professora", e que por acaso, ainda não terminei, resolvi assistir um filme para me inspirar. O escolhido foi "Os girasssóis da Rússia" (Vittorio De Sica; 1970). Onde estava minha cabeça? Eu queria me inspirar, relaxar, curtir o filme e acabei chorando baldes e ficando arrasadíssima! Confesso que fui completamente displicente. Devia ter associado: Vittorio De Sica = "Ladrões de bicicleta" = choradeira garantida.
Mas apesar de meu despreparo momentâneo, digo que o filme é lindo! A fotografia é gloriosa! Uma obra de arte, realmente. Quem não viu, aviso logo: feche esta página, pare de fuçar na internet, corra para a locadora ou faça o download agora, porque é imperdível!
Não acredite na sinopse, nem se iluda com o título ou a linda imagem da capa. Não é uma história de amor, mas um filme de guerra. Não há cenas de batalhas ou sangue, mas é guerra, seu horror e sua impiedade são responsáveis por mover a trama. Tá fazendo o que aqui ainda? Vai assistir o filme!

domingo, 28 de março de 2010

Sempre conseguem me irritar


Algumas coisas me irritam profundamente. Não é aquele tipo de irritação onde você vai se enchendo aos poucos e de repente explode, é mais bizarro. São coisas, geralmente sons, que estragam meu humor por boa parte do dia e eu reajo instantaneamente. Quando estávamos no centro do Rio, um dia, nas férias, passou um ambulante com um apito que imitava o miado de gatos: comecei a xingar, esbravejando, tive vontade de chorar, de bater no cara (que, coitado, só tava tentando fazer o dele) e demorei algumas horas a voltar ao meu estado normal de mal humor médio (só de lembrar meu humor começa a piorar).
Resolvi listá-las:
1. O som do garfo arrastando no fundo do prato. Não está em primeiro por acaso. Já ameacei diversos amigos, involuntariamente por causa desse som. Quando eu vejo, já ameacei de surra ou já xinguei.
2. Choro de recém nascido com cólicas. É um choro especificamente irritante. Não cessa.
3. Briga de casal. Dá vontade de mediar a discussão para por um fim logo, antes das acusações, dos gritos, do choro...
4. Ringtone com vozes. O que uma pessoa tem na cabeça pra colocar coisas do tipo "atende princesa, é a mamãe", ou "acorda, pigricinha" ou ainda "atende logo esse telefone, #@$%*#@!".
5. Tampinha de garrafa sendo arrastada no piso. Me arrepia, tenho vontade de socar alguém!
6. Vidro quebrando. Sempre escuto a voz da minha avó ao fundo aos gritos - esse, acho que é trauma.
7. Som automotivo estrondando. Sabe quando sua janela vibra? Ou quando você está assistindo algo bem maneiro e passa um babaca, geralmente num carro caindo aos pedaços com um som que abafa todos os outros?
8. Ganido de cachorro. Até o Otto dormiu na minha cama quando filhote, porque se ele ganisse eu acordava imediatamente.
9. Buzinas e apitos, de qualquer tipo. Minha visão embaça, fico cega de ódio! Esta copa do mundo vai ser de matar!
10. Batida de porta. E quando é o vento? Ainda tem aquele rangido insuportável antes de bater.
11. Gente que fala ao telefone gritando. Atrapalha tudo ao redor: quem está lendo, quem está vendo tv, quem está tentando conversar...
12. Sons repetitivos. Alguns dos jogos frustrantes de videogame, que meu marido gosta, daqueles que a personagem morre toda hora, tem esses sons.
A lista não acabou, mas como só de falar, já fiquei irritada, é melhor parar.

Interatividade total


Depois do "Fable II", jogo da Microsoft e da Lion Head, para Xbox 360, a impressão era que a interatividade dos consoles tinha chegado ao limite. Nada comparado ao "The Sims", cuja a única função era suprir as necessidades imediatas da personagem, sem haver uma aventura em si (com exceção da edição "Castaway", onde as personagens ficavam perdidas numa ilha deserta).
"Fable II" permite uma interação mais ampla, onde as escolhas do jogador influenciam diretamente no cotidiano do universo do jogo. Sendo má enquanto criança, o cenário pode se tornar completamente caótico no futuro, ou, sendo amoral, pode ser que nasçam chifres na personagem. Pode-se comprar imóveis, comerciar, casar-se, ter filhos. Havendo a previsão de uma terceira edição da marca "Fable" ainda para 2010.
Mas, por enquanto, a Sony passou a frente, com o lançamento de "Heavy rain", da própria Sony com a Quantic Dreams. É fenomenal! Conduzir a personagem a aventura, e ao mesmo tempo administrar suas escolhas e seu cotidiano, onde cada ação necessita de interatividade com pessoas e objetos de cena é fantástico!
Pelo visto, a guerra tecnológica entre as gigantes do entretenimento virtual só tende a render benefícios ao público. Se assim for, que se digladiem até o fim dos tempos!

sábado, 27 de março de 2010

Novos olhares sobre um ser tão antigo



Tá bom, estou mesmo obcecada. Minhas ideias a respeito do sertão estão em ebulição. Não consigo parar de refletir sobre a estética do sertão, das infinitas maneiras como foi e pode ser representado, além de como isso tudo me afeta.
Vi há algum tempo duas entrevistas com os autores de "Galileia" e "A costureira e o cangaceiro", respectivamente, Ronaldo Correia de Brito e Frances de Pontes Peebles. Ambos foram premiados.
"Galileia" trata de uma visão atual sobre a estética e a cultura sertanejas, onde o olhar de estranhamento está em foco. Como a mudança das relações do homem com o ambiente e com o próprio homem se manifestam. Como a relação com a pós modernidade afetam o cotidiano do sertão, transformando-o em lugar nenhum. O livro é muito bom!
"A costureira e o cangaceiro" foi escrito originalmente em inglês. A autora é pernambucana, mas vive nos Estados Unidos desde pequena. Narra a história de duas irmãs costureiras que se separam por causa de um ataque de cangaceiros. As histórias das personagens são narradas separadamente, mas quando é contada a história de uma, a da outra se sobrepõe através dos jornais. São mais de 600 páginas de emoção. Chorei... A história é lindíssima, muito bem escrita, muito bem traduzida e cativante. Você nunca sabe se gosta mais da história de Emília ou de Luzia.