domingo, 28 de março de 2010

Sempre conseguem me irritar


Algumas coisas me irritam profundamente. Não é aquele tipo de irritação onde você vai se enchendo aos poucos e de repente explode, é mais bizarro. São coisas, geralmente sons, que estragam meu humor por boa parte do dia e eu reajo instantaneamente. Quando estávamos no centro do Rio, um dia, nas férias, passou um ambulante com um apito que imitava o miado de gatos: comecei a xingar, esbravejando, tive vontade de chorar, de bater no cara (que, coitado, só tava tentando fazer o dele) e demorei algumas horas a voltar ao meu estado normal de mal humor médio (só de lembrar meu humor começa a piorar).
Resolvi listá-las:
1. O som do garfo arrastando no fundo do prato. Não está em primeiro por acaso. Já ameacei diversos amigos, involuntariamente por causa desse som. Quando eu vejo, já ameacei de surra ou já xinguei.
2. Choro de recém nascido com cólicas. É um choro especificamente irritante. Não cessa.
3. Briga de casal. Dá vontade de mediar a discussão para por um fim logo, antes das acusações, dos gritos, do choro...
4. Ringtone com vozes. O que uma pessoa tem na cabeça pra colocar coisas do tipo "atende princesa, é a mamãe", ou "acorda, pigricinha" ou ainda "atende logo esse telefone, #@$%*#@!".
5. Tampinha de garrafa sendo arrastada no piso. Me arrepia, tenho vontade de socar alguém!
6. Vidro quebrando. Sempre escuto a voz da minha avó ao fundo aos gritos - esse, acho que é trauma.
7. Som automotivo estrondando. Sabe quando sua janela vibra? Ou quando você está assistindo algo bem maneiro e passa um babaca, geralmente num carro caindo aos pedaços com um som que abafa todos os outros?
8. Ganido de cachorro. Até o Otto dormiu na minha cama quando filhote, porque se ele ganisse eu acordava imediatamente.
9. Buzinas e apitos, de qualquer tipo. Minha visão embaça, fico cega de ódio! Esta copa do mundo vai ser de matar!
10. Batida de porta. E quando é o vento? Ainda tem aquele rangido insuportável antes de bater.
11. Gente que fala ao telefone gritando. Atrapalha tudo ao redor: quem está lendo, quem está vendo tv, quem está tentando conversar...
12. Sons repetitivos. Alguns dos jogos frustrantes de videogame, que meu marido gosta, daqueles que a personagem morre toda hora, tem esses sons.
A lista não acabou, mas como só de falar, já fiquei irritada, é melhor parar.

Interatividade total


Depois do "Fable II", jogo da Microsoft e da Lion Head, para Xbox 360, a impressão era que a interatividade dos consoles tinha chegado ao limite. Nada comparado ao "The Sims", cuja a única função era suprir as necessidades imediatas da personagem, sem haver uma aventura em si (com exceção da edição "Castaway", onde as personagens ficavam perdidas numa ilha deserta).
"Fable II" permite uma interação mais ampla, onde as escolhas do jogador influenciam diretamente no cotidiano do universo do jogo. Sendo má enquanto criança, o cenário pode se tornar completamente caótico no futuro, ou, sendo amoral, pode ser que nasçam chifres na personagem. Pode-se comprar imóveis, comerciar, casar-se, ter filhos. Havendo a previsão de uma terceira edição da marca "Fable" ainda para 2010.
Mas, por enquanto, a Sony passou a frente, com o lançamento de "Heavy rain", da própria Sony com a Quantic Dreams. É fenomenal! Conduzir a personagem a aventura, e ao mesmo tempo administrar suas escolhas e seu cotidiano, onde cada ação necessita de interatividade com pessoas e objetos de cena é fantástico!
Pelo visto, a guerra tecnológica entre as gigantes do entretenimento virtual só tende a render benefícios ao público. Se assim for, que se digladiem até o fim dos tempos!

sábado, 27 de março de 2010

Novos olhares sobre um ser tão antigo



Tá bom, estou mesmo obcecada. Minhas ideias a respeito do sertão estão em ebulição. Não consigo parar de refletir sobre a estética do sertão, das infinitas maneiras como foi e pode ser representado, além de como isso tudo me afeta.
Vi há algum tempo duas entrevistas com os autores de "Galileia" e "A costureira e o cangaceiro", respectivamente, Ronaldo Correia de Brito e Frances de Pontes Peebles. Ambos foram premiados.
"Galileia" trata de uma visão atual sobre a estética e a cultura sertanejas, onde o olhar de estranhamento está em foco. Como a mudança das relações do homem com o ambiente e com o próprio homem se manifestam. Como a relação com a pós modernidade afetam o cotidiano do sertão, transformando-o em lugar nenhum. O livro é muito bom!
"A costureira e o cangaceiro" foi escrito originalmente em inglês. A autora é pernambucana, mas vive nos Estados Unidos desde pequena. Narra a história de duas irmãs costureiras que se separam por causa de um ataque de cangaceiros. As histórias das personagens são narradas separadamente, mas quando é contada a história de uma, a da outra se sobrepõe através dos jornais. São mais de 600 páginas de emoção. Chorei... A história é lindíssima, muito bem escrita, muito bem traduzida e cativante. Você nunca sabe se gosta mais da história de Emília ou de Luzia.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Organizando meus livros e minhas ideias


Nunca consegui entender a literatura como insistiram em me ensinar na escola. Não consigo conceber a ideia maluca dos ciclos e que eles se sucedem organizadamente, como se em fila indiana, como trens, sincronizados para evitar colisões. Pior ainda, tudo que fosse diferente ser chamado de vanguarda, ou relegado ao esquecimento (como Lima Barreto e João do Rio, que depois foram chamados de pré modernos - que diabo é pré? Pré só quer dizer que veio antes e que ninguém conseguiu seriá-los, ou classificá-los).
Existe sempre alguém tentando classificar as coisas, fazer com que elas se encaixem, dar nome aos bois. Só acho que essas pessoas não sabem bem do que se tratam as histórias, mas pelos autores serem contemporâneos, são colocados todos no mesmo balaio de gatos. Como exemplo o romantismo: Joaquim Manoel de Macedo e Bernardo de Guimarães são românticos (e chatos pra #%&@#%%!), mas José de Alencar é completamente diferente. Mas era um político importante, falava da vida da boa sociedade no Império, da moda, dos usos e costumes - seus livros poderiam ser considerados verdadeiros manuais de etiqueta. Outro detalhe que não pode passar em branco: foi um dos idealizadores e incentivadores do projeto de fundação de uma identidade nacional, valorizando a presença indígena na formação do povo. Por que ele é romântico? Por que não fundaram uma corrente só dele? Tipo assim, "identitarismo", "moralismo"?
Outro caso: terceiro ciclo modernista - ciclo regionalista (me corrijam se eu estiver louca). Regionalista por que? Alguém já tentou explicar o que é regionalismo em literatura? Por acaso, o sertanejo deixa de ser o que é dependendo de sua localização geográfica? Só é sertanejo se for nordestino? Alguém explica que, fora a saga "O Tempo e o Vento", todos os romances de Érico Veríssimo são urbanos (e mesmo a última parte da saga, "O Arquipélago" tem ambientação urbana)? Que o sertão era, e ainda é mais vasto que as áreas densamente povoadas? Que o cangaço, o banditismo e o jaguncismo eram uma realidade nas décadas de 20 e 30 do século XX? Então, que regionalismo é esse? Só porque é diferente? Por que não se encaixam em nada tem de ficar todos juntos? É como aqueles livros de edições especiais que a gente compra e por serem maiores, tem de ficar na prateleira mais alta, todos misturados, sejam romances, atlas, enciclopédias.
A literatura é produto do seu tempo. Cada autor representa seu mundo (ou outro mundo que deseja criar) da maneira que o percebe, não quer dizer que todos pensam da mesma forma por serem contemporâneos, ou conterrâneos. Não se pode afirmar que só o modernismo é genuinamente nacional, uma vez que a população letrada do século XIX era europeizada. E Machado de Assis? Um dos maiores romancistas brasileiros, não é genuinamente nacional?
A realidade sertaneja virou moda por causa do cangaço, da fome, da seca e do medo. Não foi puramente por uma evolução estética. O modernismo também mostrou-se interessado em forjar uma identidade nacional, mas acabou acolhendo as múltiplas identidade que a própria nação oferecia.
Por ser maior, por ser antiga e por ser eterna, a identidade sertaneja permanece, apesar do modernismo, das vanguardas e do pós modernismo. Obras sobre literárias sobre o sertão continuam sendo publicada e premiada ao longo dos anos. Por que nunca pensou em classificá-las numa tradição própria? Delirei?

Ser tão, sertão...


Sertão é onde tudo é tão
ser tão sertão, onde nada é tudo e tudo é menos que nada
ser tão mulher, cangaceira, donzela guerreira
Sertão de Diadorim, de Luzia
ser tão bravo, sertão bravio
Sertão sem lei, ser tão incerto
Sertão de João, de Graciliano, de Raquel
Sertão agora de Frances e Ronaldo,
do Falcão e da Costureira
de Adonias e Ismael
ser tão real, sertão de papel
flora de tinta, fauna de letras, fundando o que já havia
"Sertão é Urucuia", ser tão do Cariri
Sertão pai, austero, severo, violento
ser tão mítico, qual o titã, matando suas crias
de fome, de sede, de raiva
ser tão menina, enfeitado com flores, brincando na chuva
um ser em si
solitário, selvagem, sinistro, seco
Sertão.

quinta-feira, 18 de março de 2010

E a sua mãe também...


Quem não corre pro colo da mãe quando o negócio aperta? Só quem não tem uma.
Mãe é um bicho esquisito. Quando a gente mora com ela, existe um bilhão de cobranças e chantagens. Quando você não mora com ela, as cobranças e chantagens mudam, mas continuam lá.
Tá bom, devo confessar que, a minha mãe é uma anomalia social: sem cobranças e sem chantagens. É sério. Nunca diz que eu sumi, ou que eu não me preocupo com ela, ou que se ela morrer, eu nem vou ficar sabendo. Essas coisas, minha mãe não faz. Respeita meu espaço, não dá pitaco na minha vida ou na minha casa e sempre que vem me visitar traz a comida pra eu não sujar minha cozinha. Ela é bem diferente das outras mães, sempre foi.
Mas sempre que algo acontece, seja bom ou ruim, ela está lá. Sempre que eu adoeço, ela aparece, liga, dá um jeito de estar perto.
Hoje, apareceu com meu jantar: engrossado de frango com angu, meu prato favorito (desde muito antes de eu ter dentes). Eu realmente precisava dos cuidados e da comidinha da minha mãe. Quem não precisa? Mas cuidado, carinhos de mãe só servem em doses homeopáticas. Uma gotinha aqui, outra ali. Mas do que isso, pode causar dependência. E esse tipo de dependência depois dos trinta...
Beijo, mãe! Obrigada.

Se o azar não existe, não faço a menor idéia do que seja isto


Não sou uma pessoa supersticiosa, mas...
Parece que peguei dengue pela 2ª vez. Com tanta gente por aí, que nunca sentiu essa dor absurda, por que euzinha tinha que ser a premiada? Algumas teorias de uma mente febril e perturbada:
1. Eu tenho um cheiro muito peculiar que atrai os mosquitos.
2. Eu são tão psica com esse negócio de dengue, que não há nada no meu quintal que possa acumular água parada, então, em retaliação, os aedes aegypti resolveram me picar.
3. Vivo numa barbárie, onde a maioria das pessoas não se importam com medidas preventivas. E se alguém duvida disso, que venha ver o quintal do meu vizinho.
4. Sou pobre. Assim, estou sempre em áreas de risco, seja em casa ou no trabalho.
5. Deus me odeia. Como eu não tô nem aí pra ele, resolveu me punir pra ver se eu volto a rezar.
6. É azar mesmo! Você conhece alguém que pegou dengue mais de uma vez? Nem eu.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Rosario Tijeras


Em duas de minhas sessões de leitura, daquelas que a gente faz esperando o sono chegar, li "Rosario Tijeras", que a Émile me deu de presente de natal. Maravilhoso!!! De autoria do colombiano Jorge Franco ( a quem Gabo diz ser um dos autores que gostaria de passar a tocha), a história é deliciosa, assustadora e frenética!
Pode parecer reacionário de minha parte, mas ninguém entende a Latino América, suas distorções, discrepâncias e delícias como nós mesmos!
No meu post de 16 de dezembro de 2009, "Aura", dei vários motivos para o realismo mágico ser tão latino americano quanto é, então não vou me repetir, mas parafrasear: "Latino América para latino americanos". Soa meio doutrinador, mas nossa literatura é singular demais para que seja comparada. Nada contra as outras, até gosto muito delas, mas se houver erro de tradução, toda a interpretação de um parágrafo pode se perder. Pense como perde um alemão ao ler "Grande Sertão Veredas".
Não é xenofobia. Mas é puro preconceito de minha parte, admito. Mas o que posso fazer se a latinidade é justamente a fronteira entre logos e mithos? É aqui que se abre uma fenda entre o pensamento ocidental e a cultura mítica mestiça. Bem aqui, dentro de mim, dentro de você e dentro de "Rosario Tijeras", com sua pele mestiça, cor de canela.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Bebedeira e acabação


Nos últimos dias, os noticiários esportivos parecem mais programas de fofocas e pra variar, meu Flamengo metido na confusão! É que o bonitão do Adriano teria dado uma de suas festinhas numa das favelas do Complexo do Alemão e teria rolado de tudo, inclusive um quebra quebra promovido pela noiva do jogador.
Na verdade, pouco importa quem bateu, quem apanhou ou quem ficou amarrada numa árvore até as sete da manhã. As pessoas estão perdendo completamente a noção do perigo que representam as drogas, bem como qualquer noção de civilidade. Não vou fazer um discurso moralista nem defender a maluca da tal noiva que sabia muito bem onde estava metida. Só acho que as pessoas precisam ter mais responsabilidade. O "demônio" da droga não é ela em si. Eu também já experimentei drogas, já fiz uso delas, mas jamais atribuí a nenhuma delas os males que me causaram meus "demônios" internos. Quer se drogar, vai fundo, mas se lembre que existirão outros dias a serem vividos e que há um preço a pagar.
Sábado, morreu um grande amigo, que eu não via há tempos. Craque. Fiquei impressionada. Maconheiro das antigas, safo pacas. Sabia que de vez em quando a acabação era forte, mas nunca imaginei que ele pudesse ser envolvido por algo tão barra pesada. O preço que a vida cobra é alto. Tá disposto a pagar?

sexta-feira, 5 de março de 2010

Doce bizarria





Poucos escritores conseguem transformar o bizarro em entretenimento como David Toscana. Autor de "O último leitor", "Santa Maria do Circo" e "O exército iluminado" e outros não traduzidos para o português, o mexicano é considerado um dos grandes nomes do realismo mágico da atualidade.
Mas Toscana supera todos os outros em bizarrices: um cadáver que aparece num fundo de um poço e um bibliotecário que ensina o que o leitor deve ou não ler, uma cena tórrida com abacates; uma cidade fundada por circenses, uma mulher barbada romântica e papeizinhos que definem a função de cada um na cidade (cada uma!), e um porco que toma o lugar de uma bela mulher; um professor de história tão romântico, que corre maratonas imaginárias e forma um exército nada comum.
O melhor de tudo é que o leitor não consegue perceber a bizarria até refletir sobre ela. O texto, geralmente é lindo e hilário, simultaneamente. A diferença é tratada como pano de fundo, sendo os personagens tão humanizados que a identificação é imediata. Ninguém torna o bizarro tão doce e atraente quanto David Toscana.